Em meio a denúncias no MEC e na Caixa, Bolsonaro nega 'corrupção endêmica'

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse hoje que não há corrupção "endêmica" em seu governo, apenas "casos isolados". A declaração ocorre em meio a suspeitas de má conduta do ex-ministro do MEC (Ministério da Educação) Milton Ribeiro e dois pastores associados à pasta, além de denúncias contra o presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, por assédio sexual.
"Não temos corrupção endêmica no Brasil, têm casos isolados que pipocam. Não interessa descobrir o corrupto, mas evitar que apareça a figura do corrupto", afirmou o presidente em evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) hoje à tarde.
Bolsonaro também comentou sobre a intenção de ser aberta uma I (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar não só a conduta de Ribeiro como chefe da pasta, mas também dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, apontados como lobistas no ree de verbas do MEC aos municípios, durante a gestão do ex-ministro —os três chegaram a ser presos na semana ada, mas foram soltos após um habeas corpus. Os pastores não tinham cargo no ministério.
"Olha uma I quase saindo aí de um assunto que parece que está enterrado, parece. Mas, quando se abre uma I, abre-se um mar de oportunidades para os oportunistas fazerem campanha contra a gente", atacou Bolsonaro.
Ontem, senadores da oposição protocolaram o requerimento de criação da I para investigar o MEC. O argumento para isso ganhou força após as suspeitas de interferência de Bolsonaro nas investigações contra Milton Ribeiro. Em uma ligação interceptada pela PF (Polícia Federal), o ex-ministro disse à sua filha ter sido alertado por Bolsonaro sobre um "pressentimento" de uma possível operação de busca e apreensão contra ele.
Além disso, a CGU (Controladoria-Geral da União) apontou, no início do mês, potencial sobrepreço de R$ 1,59 bilhão na licitação para aquisição de 10 milhões de mesas e cadeiras pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão ligado ao MEC.
Um pregão do FNDE para compras de ônibus escolares chegou a ser suspenso em abril, devido a procedimento que apura indícios de sobrepreço nas negociações. O fundo teria se proposto a pagar até R$ 480 mil por um veículo que era avaliado em R$ 270 mil, segundo cálculo do próprio setor técnico. As informações foram reveladas em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.
"Não há dúvida de que se instalou uma quadrilha no MEC. Os indícios são fortes que os esquemas dessa quadrilha chegam ao Palácio do Planalto. O medo que tem Jair Bolsonaro das declarações de Milton Ribeiro, Gilmar e Arilton, dão conta, inequivocamente, de que existe indícios de que esse esquema de corrupção tem tentáculos no Palácio do Planalto", falou Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, logo após protocolar o pedido.
Ontem, acusações de assédio sexual contra o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, adicionaram mais pressão no governo federal. O caso é investigado sob sigilo pelo MPF (Ministério Público Federal).
As denúncias foram reveladas ontem pelo Metrópoles, que publicou reportagem com o relato de cinco funcionárias da Caixa que disseram ter sofrido toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho durante viagens e eventos do banco.
Compras das Forças Armadas
Outros episódios recentes trouxeram dúvidas sobre o governo de Bolsonaro, incluindo compras superfaturadas feitas pelas Forças Armadas.
Em abril, dados do portal da Transparência e do de preços do governo compilados pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO) demonstraram que as Forças Armadas aprovaram pregões para comprar 35.320 comprimidos de Viagra, medicamento usado tipicamente para tratar disfunção erétil.
Oito processos de compra foram aprovados desde 2020, e ainda estão em vigor neste ano. Nos processos, o medicamento aparece com o nome genérico Sildenafila, nas dosagens de 25 mg e 50 mg. A maior parte dos medicamentos seria destinado à Marinha, com 28.320 comprimidos; mas o Exército (5 mil comprimidos) e a Aeronáutica (2 mil comprimidos) também são atendidos.
O composto também é usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar, doença rara que faz com que a pressão arterial nos pulmões seja mais alta e que é mais comum em mulheres.
Na mesma semana, Vaz e o senador Jorge Kajuru (Podemos-GO) compilaram outros dados para apontar um gasto de aproximadamente R$ 3,5 milhões em compras de próteses penianas infláveis pelo Exército brasileiro.
Ao todo, segundo os parlamentares, foram adquiridas 60 próteses, variando de 10 a 25 centímetros, em três pregões diferentes. Todos foram homologados no ano ado. Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que apenas três próteses foram adquiridas em 2021.
As próteses penianas são utilizadas, principalmente, no tratamento de disfunção erétil. Há dois tipos: maleáveis e infláveis, com a segunda simulando melhor a fisiologia da ereção normal por meio da implantação de dois cilindros, uma bomba e um reservatório. A opção inflável é mais cara do que a maleável.
Orçamento secreto
Suspeitas também foram levantadas no último ano com o chamado orçamento secreto, um tipo específico de emenda parlamentar.
As emendas são propostas por parlamentares para definir a alocação de recursos públicos. Na prática, costumam ser usadas para destinar dinheiro a obras e projetos nas bases eleitorais dos congressistas, sem transparência. Não há um mecanismo claro de acompanhamento de quem é o padrinho das indicações para as emendas de relator nem onde o dinheiro foi aplicado.
Há suspeitas, inclusive, de que o governo as utilize como moeda de troca quando precisa de apoio em votações no Congresso, pressionado principalmente pelo centrão, base do governo Bolsonaro.
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